Há alguns dias atrás um jornal renomado trouxe, em rede nacional, uma notícia que pegou desavisados e gente que não está muito familiarizado com o assunto: o primeiro Pâncreas Artificial do Brasil finalmente havia chegado. S
Na verdade a reportagem estava falando da tão esperada Minimed 780G, a sucessora da já conhecida bomba de insulina 640G da Medtronic, que muitas pessoas – principalmente quem tem ou quem convive com pessoas que têm Diabetes Tipo 1 – com muitos avanços tecnológicos. E o que faz jus ao apelido de “pâncreas artificial”: o Sistema de Alça Fechada que simula de forma bem mais parecida que as outras bombas de insulina o funcionamento do nosso pâncreas: Ele possui um algoritmo que mede as glicoses realizando correções sem a necessidade da interferência do usuário, alcançando assim melhores resultados na glicemia.
E para quem já segue o Clube há um tempo, deve ter visto um post bem legal sobre ela na resenha que fizemos sobre o SITEC do ano passado. Lá fiz um bom apanhado sobre suas funcionalidades, que são superiores à que já existia no Brasil até então:
Sobre a Minimed 780G:
✔️Conjunto de infusão ( cânulas e reservatório ) iguais aos da 640G. Apenas sensor e transmissor serão diferentes ( passam a ser o Sensor Enlite 3 e Guardian Link 3) . O sensor deverá ser calibrado 3 vezes ao dia. Já existem bombas com o Guardian 4, que não precisam de calibração.
✔️Auto ajuste de insulina basal e auto-correções a cada 5 minutos para melhorar o tempo na meta e reduzir os possíveis erros em contagem de carboidratos
✔️Auto ajuste de bolus de refeições para redução de hipoglicemias após refeições ✔️Comunicação com celular e compartilhamento com até 5 pessoas
✔️Upload automático dos dados da bomba
✔️Foi lançado esse ano no Brasil, e a primeira pessoa a receber foi uma diabética de Curitiba, como noticiado na TV alguns dias atrás!
Como ela funciona?
O sistema de alça fechada ( o closed loop) antecipa continuamente as nossas necessidades de insulina, ajusta a infusãode insulina e corrige automaticamente os altas, enquanto ajuda a proteger das quedas e possíveis hipoglicemias. Isso acaba dando mais liberdade para a pessoa que convive com Diabetes para se preocupar menos no gerenciamento da “doença” todo o tempo, focar na sua vida e não nos seus níveis de glicose. Sem dúvida, é o que muitos de nós queremos né?
Quem pode usar?
A princípio a bomba de insulina poderia ser para todos, certo? Mas ainda uma reflexão aqui! Não é todo mundo que vai se adaptar a rotina de uma bomba de insulina. Porque ainda assim teremos ali todo o tempo aquele aparelho acoplado em nosso corpo. Não tem jeito. É pra dormir, pra treinar, para passear. É uma escolha!
Nem todos precisam. Ou, nem todos podem, infelizmente, comprá-la. E o SUS não disponibiliza, por enquanto esse tratamento para os pacientes. Então ainda é um caminho longo a ser percorrido e a necessidade desse tipo de tratamento precisa ser avaliada pelo médico endocrinologista, juntamente com a análise do estilo de vida, necessidade do paciente, condição de saúde, etc.
Cada tratamento é único e cada corpo também. Quem escreve aqui é um exemplo vivo de que a bomba pode trazer muitos benefícios em nosso dia a dia, um ganho considerável em qualidade de vida. Para quem tem complicações então, é indiscutível que o Sistema de Infusão Contínua é um presente da tecnologia para nossas vidas!!! Tudo precisa ser muito bem pensado e analisado. A tecnologia está aí para nos auxiliar, e precisa ser usada corretamente e de forma inteligente e consciente.
Mas….a 780G é o único e nosso primeiro Pâncreas Artificial? A resposta é SIM E NÃO!!! Entenda o porquê!
NO MUNDO, em janeiro de 2020 o FDA aprovou o Control IQ, primeiro Pancreas Artificial americano e já havíamos até noticiado no Instagram do Clube, e aqui mesmo no site nesta reportagem, a notícia sobre a combinação de devices (que infelizmente não são comercializados no Brasil) mas que trabalham com um sistema bem parecido com o da bomba que está chegando em nosso país: a Tandem e o Dexcom, juntos.
Na sequência dessa notícia, chegou no mercado a bomba da Medtronic, com o Closed Loop ( que agora temos aqui =D) e passou a ser utilizada por diabéticos de países como Estados Unidos, Canadá, Chile, e alguns países da Europa.
Também existiam famílias que faziam sistemas não homologados, os conhecidos “sistemas caseiros” que se utilizam de bombas antigas e sensores como o Libre, por exemplo, mais um programa criado, por exemplo, por um pai de uma criança com Diabetes, e através de um celular, um computador com bluetooth, fazendo o sistema de pâncreas artificial. Mesmo sendo mais arriscado, muitas pessoas utilizam por ser mais em conta e de certa forma, trazer mais segurança e sensação de controle na condição . Sistemas como o “Do it Yourself” e o “The Loop”, sistemas tipo “Open Source”, não regulamentados, criados por pacientes ou familiares para melhorar a vida de pacientes. E que muita gente usa mundo afora!
Li uma reportagem sobre o assunto no site da Universidade de Alberta, no Canadá falando sobre o assunto, em 2020. Vale muito a pena ler e refletir sobre isso, pois a tecnologia evoluiu de uma forma tão absurda nos últimos anos meus queridos que posso dizer a vocês que praticamente vivo outra vida ao longo de 43 anos de diagnóstico. É como se eu tivesse vivido um filme em minha infância, e hoje estivesse em um daqueles de ficção científica: para melhor ( links no final da matéria)
NO BRASIL até a chegada da Minimed 780G, o que existia por aqui? Exatamente as pessoas que usam os Pâncreas Artificiais não homologados feitos com bombas antigas, Libre e um celular ( e que eu particularmente nunca tive coragem de fazer por segurança), a já conhecida Minimed 640 G que não é um Pâncreas Artificial ( ela só suspende a infusão de insulina na previsão de queda e com isso evita até 80% das hipoglicemias) e as bombas de insulinas mais antigas, como a Veo e a Accu Check Smart Combo da Roche .
Por isso quando o jornal noticiou que aquele foi o primeiro pâncreas artificial, tenho ressalvas minha gente! Nada de sensacionalismo. A novidade é pra lá de maravilhosa!!!! Mas sejamos realistas né?
Vai ser um tratamento para todos?
Como já disse lá em cima, provavelmente não. E isso é até democrático.
Para quem não usa Bomba de Insulina, uma boa opção para um ótimo controle são as canetas inteligentes e os sensores de glicemia. E claro, os bons controles!
Links interessantes Leitura:
Universidade de Alberta: DIY diabetics create artificial pâncreas
Pancreas Artificial aprovado em 2019, Tandem + Dexcom: FDA aprova Pâncreas Artificial
No lançamento da 640G já noticiávamos o nosso “Pancreas Artificial”. Estavamos quase né? (matéria da imprensa)