O Holocausto foi um dos momentos mais sombrios da história da civilização humana, responsável pela disseminação do terror em toda a Europa durante a Segunda Guerra Mundial. Conhecido como o maior genocídio do século XX, o Estado Nazista assassinou seis milhões de judeus. Dentre eles mais de um milhão de crianças, dois milhões de mulheres e três milhões de homens.
Os campos de concentração reuniram milhões de judeus em condições sub-humanas, sem direito a alimentação, cuidados médicos e higiene. Mesmo assim, existem histórias de pessoas que sobreviveram a essas condições. Um deles é Ernest Sterzer que, além de todas as dificuldades enfrentadas por todas as outras pessoas, sobreviveu o Holocausto com diabetes tipo 1.
Nascido em Viena, na Áustria, Sterzer tinha três anos de idade quando foi diagnosticado, em 1928, e começou a receber injeções de insulina imediatamente. Quando a Segunda Guerra Mundial começou, foi um dos milhões de prisioneiros dos campos de concentração.
Sterzer foi levado ao campo de concentração em Theresienstadt, na Tchecoslováquia, em 1º de outubro de 1942. Ele dormia no chão frio, com a maioria dos idosos à sua volta morrendo devido às terríveis condições e à fome. Sterzer só conseguiu insulina através de um acordo com uma mulher que sua mãe conheceu na época. Em troca do hormônio, Ernest entregava pães que roubava da padaria onde trabalhava.
Partindo de Theresienstadt, em 15 de outubro de 1944, Sterzer perdeu seu estojo de insumos ao viajar para Birkenau. Em 17 de outubro de 1944, Sterzer chegou à Auschwitz.
Após dois dias sem insulina, Sterzer entrou em coma e acordou depois de dois dias em um hospital. O médico responsável, um judeu russo, tinha insulina disponível. Apesar do uso de uma agulha enferrujada, Sterzer conseguiu evitar a contaminação sanguínea.
Aproximadamente duas semanas depois, a notícia se espalhou de que as tropas russas estavam avançando em Auschwitz. Dessa forma, os prisioneiros teriam que ser transferidos.
O médico de Sterzer salvou-o da morte inevitável nas mãos dos guardas da SS, alegando que sua doença era devido a uma “perna inchada” e que ele estava bem o suficiente para ser evacuado de Birkenau. Além disso, o médico conseguiu enviar um pacote de medicação a Sterzer. Porém, ele foi roubado antes mesmo da transferência e voltou a ficar sem a insulina que tanto precisava.
Então, o judeu embarcou em um trem de gado e acabou na Heinkel Werke, considerada uma das maiores fábricas de aviões da Alemanha da época, três dias depois de sua última injeção de insulina.
Tendo chegado à 1h da manhã, esperou os médicos prisioneiros chegarem só às 7h. Mal conseguindo ficar em pé, Sterzer conseguiu informar um dos médicos sobre seu diabetes. Após algumas horas, recebeu a insulina que tanto precisava e uma tigela de sopa quente – a primeira comida que ele consumiu em três dias.
O mesmo médico visitou Sterzer a cada três dias para administrar insulina, mas sua condição física estava em declínio. Após 10 dias em Heinkel, sua perna direita inchava a ponto de ele não conseguir andar. Mais uma vez, Sterzer recebeu um alívio temporário quando foi internado em um hospital para judeus. Mas, depois de uma semana, ele foi informado de que o suprimento de insulina havia acabado.
Posteriormente, Sterzer foi novamente transferido, desta vez para o campo de concentração de Oranienburg-Sachsenhausen.
Oranienburg tinha um hospital bem equipado, construído em 1933, principalmente para prisioneiros políticos e criminosos.
Sterzer teve sua urina checada duas vezes por dia e seu açúcar no sangue uma vez por dia. Eu um dia, ele chegou a receber uma dose de 110 unidades de insulina para reduzir a glicemia.
Após três semanas em Oranienburg, a orelha de Sterzer teve um fluxo constante de pus – ele foi informado de que havia desenvolvido uma mastoidite. No dia seguinte, ele desenvolveu paralisia do palato mole no céu da boca e creditava suas preces constantes como a razão pela qual ele ainda era capaz de falar.
Depois de ser retirado de mais uma transferência, dessa vez para Bergen-Bergen, onde Sterzer provavelmente teria sido morto em uma câmara de gás, ele conseguiu um trabalho no hospital, entregando comida aos prisioneiros e lavando pratos.
Mas isso terminou abruptamente quando um guarda da SS descobriu que um judeu estava trabalhando no hospital. Isso levou Sterzer a receber uma surra que ele chamou de “uma dos piores que já experimentei”.
Depois de ter recebido de uma enfermeira uma seringa com um pouco de insulina, Sterzer e o resto dos prisioneiros foram evacuados de Oranienburg. Os guardas o faziam andar junto com um grupo de prisioneiros durante 16 horas por dia, no que ficou conhecido como uma “marcha da morte”.
Na manhã do dia 2 de maio de 1945, o último guarda da SS havia deixado o grupo de Sterzer, com tropas americanas e alemãs lutando em Schwerin, uma cidade a cerca de três quilômetros ao norte de sua localização.
Sterzer aproveitou a chance para escapar e encontrou dois soldados americanos que o receberam e deram tratamento médico.
Ao voltar para Viena, Sterzer descobriu que seu pai havia sido morto em uma câmara de gás, em Auschwitz. Já sua mãe também morreu nos campos de concentração, e seu irmão conseguiu retornar a Viena.
Mesmo nos principais hospitais de Viena, não havia insulina disponível. Os campos de concentração estavam entre os únicos locais em que Sterzer teria conseguido obter insulina.
Sterzer ficou cego, em 1953, devido a hemorragias sofridas pelo tratamento dos agentes do Serviço Secreto Nazista. Além de outras complicações vindas da sua falta de capacidade de injetar insulina diariamente.
Após isso, passou a criar o Serviço Superior de Endereçamento e Correspondência, em Nova York, com a ajuda de sua cadela Sheila.
Ernest Sterzer morreu em 1 de maio de 1973.
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