No final do ano passado (2017), o Conselho Federal de Medicina publicou um parecer que libera a prática da cirurgia bariátrica, somente para pacientes de diabetes tipo 2, para pessoas com Índice de Massa Corporal (IMC) entre 30 e 34,9. Antes disso, a operação só era permitida legalmente para pacientes com IMC a partir de 35.
A decisão foi tomada porque a maioria das pessoas que convivem com a condição não alcança o IMC suficiente para se adequar à regra anterior. Em entrevista, o coordenador do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Ricardo Cohen, explica que o grupo de diabéticos de tipo 2 que não atinge o IMC de 35 chega a 80% dos pacientes.
Como a obesidade e o sobrepeso estão diretamente relacionados a 90% dos casos de diabetes tipo 2 no país, a perda de peso é essencial para o tratamento da doença. Mas, os riscos associados à cirurgia são sempre consideráveis. Assim, são necessários estudos que avaliem uma comparação direta entre o melhor tratamento clínico (incluindo as novas drogas disponíveis) e a opção cirúrgica.
Entenda abaixo os detalhes da cirurgia, estudos realizados e os requisitos necessários para sua liberação.
A cirurgia bariátrica tem como objetivo reduzir a capacidade de ingestão de alimentos pela diminuição do sistema digestivo e, consequentemente, o aumento na sensação de saciedade.
Existem algumas técnicas diferentes para essa cirurgia, mas o Bypass Gástrico e a Gastrectomia Vertical são as duas mais comuns. Entenda melhor:
Desenvolvida na década de 60, esta é, de acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), a técnica utilizada em 75% dos casos no Brasil, por ser a mais segura e eficaz.
Nela, são feitos dois procedimentos. Primeiro, o grampeamento de parte do estômago, que reduz o espaço do alimento ingerido e, depois, um desvio do intestino inicial, que promove o aumento de hormônios que dão saciedade e diminuem a fome. Essa somatória entre menor ingestão de alimentos e aumento da saciedade é o que leva ao emagrecimento.
Uma técnica mais recente, feita nos últimos 20 anos, mas que vem crescendo no país e considerada como um procedimento restritivo e metabólico. Nesse tipo de cirurgia, também é realizada a redução da área disponível para a ingestão de alimentos, mas aqui o estômago é transformado em um tubo, com capacidade de 80 a 100 mililitros.
A perda de peso relacionada a este método é comparável ao anterior e tem apresentado bons resultados no controle da hipertensão e de algumas doenças lipídicas (colesterol e triglicérides).
O médico endocrinologista Dr. Arnaldo Moura Neto, em sua coluna no portal da Sociedade Brasileira de Diabetes, explica que a obesidade é uma doença de controle extremamente difícil, inclusive chamando-a de epidemia no país: “em alguns casos, o paciente se torna tão resistente à insulina que, mesmo com doses altas, não é possível o controle adequado das glicemias”.
Os benefícios da operação foram analisados em um estudo feito pelo New England Journal of Medicine, a partir do acompanhamento de 150 pacientes que passaram pelo procedimento ao longo dos cinco primeiros anos pós-cirurgia.
Os resultados encontrados foram positivos: a combinação da cirurgia com acompanhamento médico intensivo foi mais eficaz para reduzir – em alguns casos, resolver – os índices glicêmicos, quando comparado ao tratamento feito somente com medicamentos.
A SBCBM esclarece que, apesar de existirem duas nomenclaturas, as técnicas utilizadas para as cirurgias Bariátrica e Metabólica são as mesmas. A diferença é que o foco principal do procedimento chamado metabólico é o controle das disfunções hormonais causadas pelo excesso de peso, ao contrário da perda de peso por si só, que é o caso da Bariátrica.
Assim como toda cirurgia de grande porte, a bariátrica, ainda que considerada segura, apresenta riscos. Por isso, não deve ser feita antes que o paciente cumpra os requisitos necessários listados na norma publicada pelo Conselho Nacional de Medicina.
Antes de tudo, o paciente deve ter entre 30 e 70 anos de idade, diagnosticado com diabetes tipo 2 há menos de 10 anos e ter IMC entre 30 kg/m² e 34,9 kg/m². Além disso, a indicação cirúrgica precisa ser feita por dois médicos especialistas em endocrinologia.
Também é preciso apresentar um parecer que mostre que o paciente manifestou resistência ao tratamento clínico com antidiabéticos orais e/ou injetáveis, mudanças no estilo de vida e que compareceu ao endocrinologista por no mínimo dois anos.
Isso tudo além de, claro, não apresentar contraindicações metabólicas básicas para qualquer tipo de intervenção cirúrgica, identificadas em exames laboratoriais requisitados pelo cirurgião.